segunda-feira, maio 11, 2009

Perda

É incrível como a própria palavra nos consegue assolar a alma, relembra-nos da nossa mortalidade e fragilidade. E com um campo tão abrangente de grau de importância… Perdi aquele papel insignificante, perdi o comboio, perdi o telemóvel, … perdi o meu mentor, perdi o meu amor…

Uma palavra que nos leva ao que mais tememos… Ao sentimento de falta e ausência. Saudades do que em tempos foi nosso, que era a nossa vida… do que, num ápice, desapareceu sem realmente entendermos o porquê. E tudo porque sempre achámos que iria ser eterno, que teríamos todo o tempo do mundo para viver aquela vida. E num instante, o que considerávamos a essência de viver, esfumou-se por entre a neblina da madrugada que não se fez notar…

Então, vemo-nos a andar em círculos numa rotunda sem saber que saída tomar. Esperando que aquela saída, aquele caminho por onde queríamos seguir volte a estar desimpedido. Andamos às voltas e voltas, à espera duma presença, duma mão amiga que nos diga “é por ali o caminho que deves seguir e eu acompanhar-te-ei” com um sorriso resplandecente que nos ilumina novamente a alma. Que nos retira das trevas sombrias que nos rodeavam fazendo-nos novamente acreditar na honestidade, na felicidade, na beleza que este mundo se diz ter.

Quantos de nós ainda anda em círculos? Ou parados até?! À espera dum sinal, de algo…

Mas requer força, às vezes até demasiada. Pensamos que requer mais do que aquilo que possuímos, que conseguimos fazer… Então deixamo-nos estar sentados, vendo o mundo passar. E então o sol já não nos parece tão brilhante, a lua tão encantadora, a neve tão mágica, e a música já não nos soa tão bem, ou então soa-nos demasiado aquilo que mais queremos esquecer, fugir.

Porque nunca sabemos, realmente, quando ultrapassámos a dor, o sofrimento, até sermos novamente confrontados com algo que nos relembra demasiado aquela faca que foi mais funda do que as outras…

Perda… o sentimento que mais nos assola. Que enlouquece, que nos deita por terra, que transforma o mais belo dia na noite mais sombria.

Enfrentá-la é terrível, ultrapassá-la é de loucos, desumano, infernal!...

Um grande abraço e obrigado ao meu mestre, mentor e incentivador da escrita, Dr. Camilo de Araújo Correia, que partiu demasiado cedo no Inverno da sua vida.

Um obrigado a quem me inspirou e confrontou com tal sentimento.

Por último, um muito obrigado a quem nunca deixou de acreditar, a quem sempre incentivou-me e apoiou-me para voltar a escrever, quando a palavra era o que eu mais temia.

Sem mais, aqui fico.

Beijos e abraços